Paranoia suburbana, luto coletivo e um mistério às 2h17
Sem recorrer a sustos fáceis, A Hora do Mal constrói um horror de alta octanagem emocional: uma cidade perfeita em aparência é atravessada por um evento impossível — 17 crianças deixam suas casas exatamente às 2h17 e somem na escuridão. A partir daí, o filme esmiúça culpa, negação e a necessidade de sentido diante do caos.
Com direção e roteiro de Zach Cregger, o longa aposta em capítulos interligados, ótimas atuações e um comentário social cortante, mantendo a tensão sempre um passo à frente das respostas.
Sinopse
Em Maybrook, Illinois, câmeras residenciais registram um fenômeno inquietante: crianças de uma mesma classe deixam suas casas às 2h17, em silêncio e em sincronia, como se atendessem a um chamado invisível. No dia seguinte, apenas um aluno aparece na escola.
Entre pais devastados e suspeitas crescentes, a professora da turma se envolve na busca por explicações, cruzando caminho com um pai em luto e figuras locais que guardam mais do que aparentam. A investigação expõe rachaduras morais e emocionais na comunidade — e a linha tênue entre proteção e paranoia.
Ficha técnica
- Título original: Weapons
- Ano: 2025
- Direção/Roteiro: Zach Cregger
- Elenco principal: Josh Brolin, Julia Garner, Alden Ehrenreich, Austin Abrams, Amy Madigan, Benedict Wong, Cary Christopher
- Duração: 128 min
- País: EUA
- Distribuidora: Warner Bros. Pictures
- Gênero: Terror, Mistério, Thriller
- Classificação: 16 anos
Elenco
- Josh Brolin
- Julia Garner
- Alden Ehrenreich
- Austin Abrams
- Amy Madigan
- Benedict Wong
- Cary Christopher
Análise/Crítica (sem spoilers)
Estrutura em capítulos que funciona: Cregger articula pontos de vista complementares — pais, professores e moradores — para transformar um mistério sobrenatural em estudo de personagem. Cada segmento adiciona camadas de motivação e ambiguidade, sem diluir a tensão.
Terror social com pulso dramático: o desaparecimento coletivo opera como metáfora do medo contemporâneo: desinformação em cadeia, instituições fragilizadas e lares onde a comunicação falhou muito antes do horror. O filme é mordaz ao fustigar a “paz de gramado aparado”.
Atuações que ancoram o absurdo: Josh Brolin encarna o luto em estado bruto; Julia Garner entrega uma professora complexa, entre culpa e obstinação. Amy Madigan surge hipnótica, e Austin Abrams oferece respiros de humor nervoso sem quebrar o clima.
Forma a serviço da aflição: fotografia escura, closes opressivos e desenho de som preciso sustentam a sensação de “vigília permanente”. Uma escolha musical específica reforça o estranhamento e crava uma imagem que você não esquece quando o relógio marca 2h17.
Sem respostas fáceis: ainda que o terceiro ato flerte com explicações metafísicas, o filme preserva ambivalências que ecoam após a sessão. O que importa não é o “como”, mas o que o fenômeno revela sobre quem restou.